domingo, 4 de junho de 2017

Um primeiro questionamento

No decorrer do texto por nós discutido ao longo deste ano, Pulsões e destinos da pulsão, Freud nunca deixa de salientar que a pulsão constitui-se como um conceito ainda obscuro para a teoria psicanalítica, tanto no que diz respeito à sua observação clínica quanto, consequentemente, à sua definição teórico-conceitual. Apesar disso, Freud propõe uma distinção entre pulsão (Trieb) e estímulo (Reiz). Resumidamente, a pulsão pode ser considerada um estímulo aplicado à alma (alma aqui em um sentido muito distante do sentido religioso, simplesmente como aquilo que anima o corpo). Mas o que isso quer dizer? Em primeiro lugar, devemos salientar que a pulsão, de acordo com Freud, surge no organismo, sendo impossível removê-la a partir de uma ação motora. Assim, a pulsão é constante e irremovível. “[...] visto que ela [a pulsão] incide não a partir de fora mas de dentro do organismo, não há como fugir dela” (Freud, 1915, p. 124).


O estímulo, de uma maneira geral, pode ser eliminado em decorrência de uma ação motora em forma de descarga, devido à sua condição externa e momentânea. “Por exemplo, a luz forte que incide sobre a vista não é um estímulo pulsional; já a secura da membrana mucosa da faringe ou a irritação da membrana mucosa do estômago o são” (Freud, 1915, p. 124). Grande parte das edições dos escritos freudianos traduz o termo Trieb (sendo pulsão o termo que mais se aproxima da ideia original proposta por Freud) por instinto. Entretanto, Freud utiliza a palavra Instinkt para designar um determinismo anterior ao ser humano, ou seja, uma repetição cega da espécie. Nesse sentido, a partir da diferenciação terminológica entre pulsão, estímulo e instinto, surge um questionamento acerca do caminho seguido. Há, de início duas possibilidades para a discussão:

Estímulo - instinto - pulsão
ou
Estímulo - pulsão

A questão é se haveria em nós um instinto anterior ao surgimento da pulsão, ou se a dinâmica seria resumida apenas a um estímulo pulsional. Este questionamento ainda se mantém em nosso grupo, e será necessário avançar mais nas leituras para buscar uma resposta mais próxima ao texto freudiano. Esperamos que todos venham conosco nesta busca.

Um comentário:

  1. Muito esclarecedor, parabéns pelo trabalho, continuarei seguindo com certeza!

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