sexta-feira, 8 de julho de 2016

O recalque na neurose obsessiva.



Apenas a título de ilustração, cabe lembrar que a palavra usada por Freud para o que conhecemos como Neurose Obsessiva é Zwangsneurose, que literalmente, deveria ser traduzia por Neurose Coerciva (de Zwang – coerção, coação). A tradução desta palavra (Zwang) por obsessão ou por compulsão se deveu às escolas inglesa e francesa de psiquiatria, respectivamente. Entretanto nenhuma das duas palavras apresenta a principal característica do pensamento daqueles que costumamos chamar de Neurótico obsessivo – a obrigatoriedade do pensamento, a sensação de ser coagido, de ter que pensar coercitivamente. Um pequeno exemplo para nos ajudar a entender. Normalmente não agimos agressivamente contra um amigo, mas imaginem a situação: uma pessoa coloca uma arma em sua cabeça e lhe diz para agredir fisicamente um amigo que se encontra à sua frente. Ainda que você não queira, você acaba por fazê-lo. Esta é a ideia de coerção incluída na palavra alemã, esta é a forma como o pensamento do obsessivo acontece. De toda forma, manteremos a tradução Neurose Obsessiva, posto que esta se estabeleceu no meio psicanalítico brasileiro.
Agora, partiremos para a terceira e última forma de recalque que Freud nos apresenta no texto O recalque (1915/1974), sobre a neurose obsessiva. Freud no início do trecho sobre a neurose obsessiva (p.180) vem nos dizer de sua dúvida, se o que é recalcado é um anseio sádico ou hostil do representante, e ao longo do texto nos apresenta que na verdade um anseio sádico entrou no lugar de um anseio amoroso, e é exatamente este anseio hostil contra uma pessoa amada que sofre o recalque.
Freud coloca que em um primeiro momento o recalque tem sucesso absoluto, pois o conteúdo da representação é recusado (abgewiesen) e o afeto desaparece (Verschwinden). O Eu se altera devido a uma formação substitutiva e há um aumento de conscienciosidade, o que não pode ser chamado de sintoma. O que podemos notar então é que Freud distingue formação substitutiva de sintoma. O que vemos nesse caso é que o mecanismo do recalque coincide com o da formação reativa, mas difere temporal e conceitualmente da formação de sintoma.
Após este primeiro momento, o sucesso que parecia certo não se mantém. A ambivalência que permitiu o recalque por meio da formação reativa é o mesmo ponto que permite àquilo que foi recalcado retornar.
A representação recusada volta agora como um substituto por deslocamento, e o fracasso do fator afetivo retorna como evitações e proibições, como discutimos anteriormente sobre as fobias histéricas (ver postagem sobre O recalque na histeria de medo), ainda que haja uma tendência de que tal representação retorne completa e intacta. De toda forma, à representação é recusado o acesso ao Consciente, o que promove o impedimento da ação, travando o impulso motor. O recalque na neurose obsessiva é, portanto, um fracasso que resulta em uma luta sem êxito nem fim.
O pensar obsessivo é caracterizado por distorções. O obsessivo fica absorto na esfera do pensamento e acaba procrastinando a descarga da tensão através de longos processos de ruminação. Apresenta em seu discurso o deslocamento de afeto de uma representação para outra, já que grandes males o aguardam caso a sua ação não seja simétrica aos padrões de seu pensamento. Entra aqui em cena o processo de Inibição, que nada mais é do que a inibição da descarga motora da pulsão. Pensando no famoso esquema do pente (ver a postagem sobre as Três barreiras à representação), o processo se interrompe sem chegar ao fim, a descarga motora.

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