terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Tempo e espaço na Die Verneinung de Freud


Esta é uma proposta de trabalho para o 9º Congresso Norte-Nordeste de Psicologia que ocorrerá em Salvador – BA, e apresenta o início de teorização de minha tese de doutorado sobre a realidade em psicanálise, buscando abordar a dualidade dentro/fora através da topologia lacaniana. Trataremos do início da teorização, uma interseção entre psicanálise e filosofia. Muito se sabe das aproximações freudianas da filosofia de Kant. Na maioria dos textos encontramos críticas aos erros de leitura e falta de domínio conceitual, e há também a proposta de que a leitura freudiana de Kant seria enviesada pelas ideias de Schopenhauer. Conhecendo tais avisos, mas deixando-os no horizonte de nosso estudo, pretendemos abordar a origem do aparelho psíquico proposto por Freud e aproximá-lo da estética transcendental de Kant baseando-nos para isto em dois pequenos textos: o trecho kantiano relativo à Estética Transcendental incluído na Crítica da Razão Pura e o texto freudiano A negação (Die Verneinung), sempre tendo como foco principal a psicanálise. A leitura cuidadosa desses dois textos, em diferentes traduções, incluindo o original alemão, nos levam a encontrar relações significantes entre as teorizações kantianas de espaço e tempo (formas a priori da sensibilidade) e os mundos interno (Innenwelt) e externo (Aussenwelt) de Freud, que apresentam a dualidade da realidade em psicanálise – psíquica e material. Em Kant o espaço seria a forma do sentido exterior, a maneira pela qual podemos representar os objetos que existem fora de nós. O tempo seria o sentido íntimo, maneira pela qual poderíamos perceber a nós mesmos intuitivamente, ou seja, nossos estados internos. No texto freudiano podemos ler que em um momento infinitesimal menor, um marco zero da subjetividade, haveria um divisor de águas no que se refere às estruturas. Esse é o momento da afirmação (Bejahung) e da expulsão (Austoβung). Em uma perspectiva lacaniana podemos dizer que na neurose há a afirmação da lei (Nome-do-Pai) e a expulsão do objeto, enquanto na psicose haveria a afirmação do objeto e a foraclusão do Nome-do-Pai. Em ambas as estruturas o que se criaria é uma separação entre um mundo interno, subjetivo; e um externo, objetivo. A teorização freudiana das diferenças radicais entre neurose e psicose em relação ao dentro e fora se deu por volta de 1924 no texto A perda da realidade na neurose e na psicose. A hipótese atual de solução para a dualidade se encontra em um rascunho freudiano no qual ele afirma que o espaço pode ser a projeção do aparelho psíquico, havendo uma junção do dentro e do fora.

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