Nossa visão do mundo através dos tempos sempre esteve
enviesada por dicotomias: ideias e coisas, sensação e razão, dentro e fora,
sujeito e objeto, res extensa e res cogitans, o psíquico e o material e tantas
outras.
Em alguns momentos tais dicotomias foram suspensas, ou
alguém tentou de alguma forma encontrar um meio termo entre elas, ou talvez uma
relação, um intermediário enfim. Com Platão a intermediário entre o mundo das
Coisas e o mundo das Ideias pode ser o número (pelo menos segundo Rey Pastor e
Babini em sua História da matemática); Kant diz que o fenômeno não se encontra
no objeto em si mesmo, nem no sujeito, mas na relação entre o objeto e o
sujeito.
Na psicanálise não é muito diferente. Freud sempre colocou essa
dicotomia em seus textos: realidade psíquica e realidade material (em alguns
momentos objetiva, em outros momentos realidade do mundo externo). A dicotomia
dentro fora aparece forte na distinção entre neurose e psicose em textos do
início da segunda tópica como Neurose e psicose e A perda da realidade na
neurose e psicose, nos quais Freud fala que a neurose é resultado de conflito
entre o Eu e o Isso em favor do mundo externo; já a psicose seria um conflito
análogo entre o Eu e o mundo externo a serviço do Isso.
Entretanto bem ao fim de sua vida, em um pequeno rascunho de
difícil leitura, Freud diz que “o espaço pode ser a projeção da extensão do
aparelho psíquico. Nenhuma outra derivação é provável. Em vez dos determinantes
a priori, de Kant, de nosso aparelho psíquico. A psique é estendida; nada sabe
a respeito”.
Partindo então da questão freudiana de que mais importante
que a perda da realidade é o estudo de sua construção, propusemos uma pesquisa
sobre a construção da realidade tendo como grande campo epistemológico a
Psicanálise. O método será a topologia lacaniana, pois acreditamos que as
figuras topológicas que Lacan estuda podem ser de grande utilidade para o
entendimento da realidade.
Essa pesquisa é realizada dentro da linha de pesquisa de
Estudo psicanalíticos do Doutorado em Psicologia da UFMG, sob a orientação da
conhecida e respeitada Andréa Máris Campos Guerra. Também tenho outros
parceiros nessa busca, entre os quais posso citar o grupo de estudos de
topologia do Aleph Escola de Psicanálise, em especial Maria Augusta Friche, e
ao professor Pablo Amster da Universidade de Buenos aires. A estas pessoas só
tenho que agradecer pela ajuda sincera.
Por enquanto é isso. Ao longo da escrita da tese irei
apresentando os principais pontos discutidos.
Abraços a todos,
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