Olá todos,
Vamos hoje dar um exemplo de leitura topológica de um texto freudiano. esta leitura é feita por Alfredo Eidelsztein, mas aqui eu mesmo inseri algumas figuras para deixar o exemplo mais claro.
Este
exemplo é retirado do A interpretação dos
Sonhos de Freud. Vejamos no desenho abaixo:
Esta
é a versão final da proposta freudiana. Há outros esquemas anteriores. Vejamos
o que ele nos diz. Em primeiro lugar, a esquema funciona caminhando da esquerda
para a direita. Podemos notar que primeiro nosso aparelho psíquico tem uma
percepção de alguma coisa, esta percepção deixa rastros de memória (que são
marcados aqui como Mnem, Menem’). Mais ao fim temos o Inconsciente, depois o Pré-consciente e por fim a descarga motora, onde podemos colocar a consciência.
Este é o esquema do sistema percepção-consciência freudiano.
Agora
imaginemos tudo isso em uma linha, na qual cada uma das etapas é um ponto.
Podemos fazer uma torção nessa linha e transformá-la em uma espiral. Vejamos no
desenho abaixo:
Nesta
transformação topológica podemos notar que os pontos mantêm suas posições, e
que a cada ponto da linha reta, temos um único ponto na espiral. Tomemos como
exemplo o Pcs. Ele está entre o Ics e o Cs. Vejamos que na espiral esta
localização se mantém. Esse esquema nos mostra que uma representação
inconsciente não passa diretamente à consciência. Ela necessita antes chegar ao
pré-consciente. Ou seja, os pontos precisam manter sua posição no espaço para
que o esquema funcione.
Vemos
então que o conceito de biunivocidade (a cada ponto da reta corresponde apenas
um ponto da espiral e vice versa) se mantém, assim como o conceito de
bicontinuidade (dois pontos vizinhos na reta correspondem a dois pontos
vizinhos na espiral). O esquema funciona porque todos os pontos são
considerados conjuntos abertos. Se eles fossem fechados uma suposta energia que
os atravessa pararia no ponto que fosse um conjunto fechado. Temos então nesse
exemplo a utilização dos conceitos de aberto, vizinhança, continuidade e
transformação topológica ou homeomorfismo.
Mas
e se fizéssemos outra transformação e a linha se tornasse uma circunferência, unindo
os pontos Pcpt e Cs? Vejamos no desenho:
Notemos
que alguns pontos mantém a vizinhança, como vimos no exemplo anterior
analisando o ponto Pcs. Entretanto os pontos Pcpt e Cs se tornaram um só e
assim o fim e o início do esquema estão no mesmo lugar. Se fizermos uma
analogia com um circuito elétrico teríamos um curto-circuito e talvez os traços
de memória, o inconsciente e o pré-consciente não fossem mais necessários.
Estaríamos aqui no reino da psicologia? Podemos notar então que esta não é uma
transformação topológica, ou seja, o esquema percepção-consciência de Freud não
é homeomorfo de uma circunferência, pois as propriedades dos lugares não se
mantêm.
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