Olá todos, ultimamente tenho visto
muitas pessoas por aí que se intitulam psicanalistas. Isto é um fato
interessante, pois como a psicanálise não é uma graduação de uma universidade,
fica fácil alguém dizer que é analista, pois não precisa de um “diploma”. Entretanto
há uma formação, grande, demorada, séria e que é baseada no tripé da formação:
estudos, análise e supervisão dos atendimentos. Depois de um longo percurso, há
o passe, nas escolas de orientação lacaniana.
Podemos citar escolas serias como a
EBP, O Círculo psicanalítico, o Aleph e tantas outras, mas vemos muitas
instituições que se denominam escolas de psicanálise chegando a dar “Carteirinha
de psicanalista”.
Outro ponto são alunos de graduação,
recém formados que se intitulam psicanalistas, ou mesmo pessoas que fazem
alguma especialização, ou mesmo cursos de extensão em teoria psicanalítica e acham que isto é ser psicanalista.
Não é bem assim. Ao procurarem
algum analista, sejam atenciosos. Perguntem onde ele fez sua formação.
Cuidado a picaretagem existe nos
lugares mais improváveis.
Só para complementar, deixo o
trecho do texto de Lacan no qual ele fala que “O analista se autoriza de si
mesmo” e depois um comentário de Antonio Quinet. Vale a pena ler e refletir.
Abraços a todos,
“O analista só se autoriza de si
mesmo*, isso é óbvio. Pouco lhe importa uma garantia que minha escola lhe dê, provavelmente
com a irônica sigla AME. Não é com isso
que ele opera.
[...]
Aquilo de que ele tem de cuidar é
que, a autorizar-se de si mesmo, haja apenas o analista.
Pois minha tese, inaugural ao romper
com a prática mediante a qual pretensas Sociedades fazem da análise uma agregação,
nem por isso implica que qualquer um seja analista.
Pois, no que ela enuncia que é do
analista que se trata, supõe que ele exista.
Autorizar-se não é auto-ri(tuali)zar-se.
Pois afirmei, por outro lado, que é
do não-todo que depende o analista.
Não-todo ser falante pode
autorizar-se a produzir um analista. Prova
disso é que a análise é necessária para tanto, mas não é suficiente.
Somente o analista, ou seja, não
qualquer um, autoriza-se apenas de si mesmo.
Existem analistas, agora está
feito: mas é por isso que eles funcionam. Esta função apenas torna provável a
ex-sistência do analista. Probabilidade suficiente para garantir que haja
analista: que as chances sejam grandes para cada um, deixa-as absolutamente
insuficientes”
* Optamos por um português não usual
na tradução deste aforismo (“...por si mesmo), pois é importante ressaltar que,
ao utilizar a preposição de em lugar
de par, Lacan reduz a possibilidade
de uma leitura direta desta autorização como auto-autorização.
(Lacan, Nota Italiana, Outros Escritos, Zahar, 2003, pp.
311-312)
Em 1974, Lacan dirige a um grupo de
três italianos a proposta de constituírem uma Escola nomeando como membros
“aqueles que aí postularem sua entrada com base no princípio do passe”. Nesse
texto, ele enquadra de outra maneira seu aforismo “o analista se autoriza por
si mesmo”, afirmando que isso “não implica que qualquer um seja analista, pois
autorizar-se não é ‘autorri(tuali)zar-se’ e que não é todo ser falante que pode
se autorizar a bancar o analista”. Daí sua proposta de constituição de uma
Escola pela via da verificação dessa autoautorização do analista pelo
dispositivo do passe. Em suma, a proposição de 1974 de Lacan era de uma Escola
de AE, em que o recrutamento fosse efetuado pelo passe, projeto que jamais foi
realizado, mas deixa a indicação de que a autoautorização do analista em
praticar a psicanálise não dispensa a verificação — que pode ser feita no
dispositivo do passe.
(Antonio Quinet, A estranheza da psicanálise, Zahar,
2009, p. 63.)
Excelentes colocações! Isso é o vemos em toda parte, escolas que se dizem formadoras, pessoas que se dizem psicanalistas e não fizeram nem os estudos necessários, nem a análise, nem a supervisão. Uma coisa é dizer que trabalha com a perspectiva da psicanálise, nos amparado na escuta da subjetividade, outra coisa é se dizer analista!
ResponderExcluirUm abraço!
KADU (Carlos Eduardo Rodrigues)